domingo, 11 de outubro de 2009

para encontrar os pés na areia

sou raso - dai que vivo no fundo:
aqui não há luz - nisso, me ilustro

sozinho, como sempre só pude ser:
perdi o tempo, cresci anacrônico,
omisso, como as estrelas ao amanhecer.

abro os olhos, claro, estou vivo,
boiando em pleno oceano, ao sol do meio-dia.


nado.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Verde-mar

Há matas atlânticas antes do seu plano.
Desço ladeiras para chegar.
Caminho por areias soltas
e deito embalado no seu som a me navegar.
Estou absolutamente sozinho na praia,
sendo abraçado pelo mundo inteiro ao misturar sol e vento.

Não sei de onde vem sua cor, mas vem como canto de sereia.
Paraliso frente ao mar, qual esfinge, me chama.
As nuvens desenham sombras nas tuas ondas, o desejo dança.
Sou olhos estabelecidos, vazados por alguém que novamente ama.

Aprendo ver o silêncio.
Com o imenso buraco que em mim fecunda,
hieroglifo a lembrança das estrelas.
Bebo duma sabedoria perdida.
Talvez por isso, afunde no oceano.

Aflito ao não encontrar chão, algo pré-história me origina.
Hoje há um grande monstro em todo coração humano,
e eu continuo com meu sonho de menino.

Com o passar do tempo vou ganhando verde,
necrosando em alto mar.
Alimento pássaros e peixes,
vermes crescem vida em mim -
agradeço.

Aos poucos some meu corpo inchado,
até simplesmente ser esquecido.
Agora sim, em plenitude, diluído.

Já não tenso.

domingo, 2 de agosto de 2009

meu narcisismo é meu prelúdio de dor...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

expectativa...

Aprender essa calma... guardar o mundo que cresce no peito e quer transbordar. Pode parecer estranho, mas agora sei que devo cruzar os braços e fazer desse rio um oceano. Então, em um lugar em que ainda não existo, desabrocham cores e formas cada vez mais belas. Eis que é preciso guardá-las pelo maior número de séculos, deixá-las escondidas no porão onde foi esquecido o tempo. Novamente temo o silêncio e a morte, mesmo assim, devo calar. A vida há de ser justa, não deixarei tanta coisa por ser feita. E quando eu, finalmente, me for, já terei deixado minha obra nesse chão. E do pó que sou, ficará o barro mais nobre e humano.

Desenhos em nuvens

Diferente das palavras,
as nuvens se arranjam sem pensamentos.

Havia me afastado delas e de seus desenhos,
mas já posso estar mais tranqüilo,
transbordando, as compreendo:
são meus, seus segredos.

Porque brinco com as memórias
como se concretamente fossem nuvens,
sempre se movendo
passando e ganhando forma.

Não me entenda errado, só sei de mim.
Falo com os arranjos que desejo,
que me levam, que me deixam.

Um mundo encantado sobre o concreto,
e brinco em sol com fogo brasa e fumaça,
fabricando o canto que você inventou pra mim.

A consistência me leva ao ar parado,
logo me vem a janela.
Agora,
o vento.
A vida,
incrivelmente bela.
O fim.

Melhor mesmo é calar
(há tantos poemas...),
cegaríamos nesses olhos azuis -
aprendêssemos escutar, talvez.


Céus,
um cordeirinho nos trazendo a salvação!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dialética

Engraçado o quanto é essencialmente desprovida de sentido primeiro a existência humana – e ela é toda sentido se movendo, precipitando, crescendo. Mas um buraco cobre o outro enquanto não se percebe o jogo de espelhos. Então reificamos, mediação alienada, e mesmo dando cabeçadas na parede, não reparamos a anterioridade material das coisas. Nossa epopéia de gigante, o sentido está hipotecado nessa tragicomédia que herdamos. Como resolveremos a contradição que socialmente se manifesta? Quando saldaremos a dívida para, enfim, terminar com essa história imbecil?

Heart - em defesa das ridículas cartas de amor.

Novas línguas, novos seios? Sim... a vida é cheia de novos aconchegos. Mas gostei de sua medida. E sinto-me ainda sob seu lixo, escutando seu ventre. Já fuxiquei diversos amores, sei dizer o quanto são falsos e sustentados por um medo brusco. Amor, sentimento puro? Há os que sustentam a pureza da paixão. Fracos. Amores fracos como o seu perdem a liga numa atmosfera de angústia, não sustentam a própria busca, patinam sobre si mesmos. É ainda mais propício dizer que não buscam, seguem o fluxo. Então é preciso brincar de estar sozinha como estando cheia de si e de amigas – ‘apenas sei que não te quero’, dizia enquanto me lambia. E é fácil que ela não sabia, mas insistiu até que fosse. E depois não teve mais espaço ou tempo ou vontade. As coisas batem do avesso de tão simples, reflexo na janela: portas fechadas, ruas abertas. Claro que não há dúvidas, não há dívidas, não há expectativas. Tudo morno, em banho-maria, como um deus sem ódio, como as novelas de família, como adormecer no sofá. Mas você ficou fria até que pudesse cortar, encostar trincar e fazer pó. Constrangedor.

Meu coração é minha casa, e sei que esse meu tema é digno de escárnio. Onde já se viu, em pleno século XXI acomodar-se nessa linguagem? É que tedia ser seco... Talvez devesse bater mais áspero e guardar o sentimento? Já me ensinaram: nessa selva de prazer, não diga nada, desfrute, aproveite, age naturalmente. Pele e corpo se entregam por inteiro. E se um dia aparecer uma mocinha muito quente querendo te aproveitar, aproveite – não importa quem seja. Mas eu não sou desse lugar, mesmo que quisesse. Sendo um exagero dramático, devo mais é ser sozinho. Por isso deveria aprender ser calado, sem mensagens, sem cartas, sem escritos. Vazio até de mim. Sou fraco, medíocre, uma idealização frustrada. Não consigo com esse glamour, com esses gliters, com essa alegria. Lembro daquelas propagandas que mexem com nossos sonhos, sou a mentira delas explicitada lembrando do seu vulto. Mas isso não me faz menos, apenas me mostra a hora errada, e pede calma. Perco o sono, sou uma piada. Meu coração guardou seu cheiro, ficou encantado. É um inocente. Não serve pra nada. Vive quebrado.

domingo, 28 de junho de 2009

Tirando casquinha

Eu notei, ela é explosiva. Carrega quilos de dinamite na barriga. Te manda à merda por um simples detalhe que passaria despercebido, não fosse ela tão petulante e orgulhosa. Às vezes lembra do Pequeno Príncipe e se acorda caçoando, dando risada alta. Nesses dias, envolve de suco gástrico qualquer coisa que não combina. Sai do quarto com seu óculos policial, e num clima blasé mostra para todos o quanto é independente e sozinha. E está bom assim. Mas não se agüenta tão séria, e logo escapa algum comentário idiota. É uma tiradora de sarro – sim, sarcasmo gástrico. Agora, se você, um dia, tiver o privilégio de escutar de perto o canto que tem os olhos dessa menina... terá cravado pra sempre em sua memória um doce relicário de melodias cor-de-rosa, com primaveras sorrindo e promessas de um romântico tempo de amor, daqueles antigos. E como sonha essa guria! Quer engolir as nuvens, sustentar o mundo numa tragada. Os sonhos crescem e se enroscam nos caracóis de seus cabelos embaraçados. Ela se debate, acende um cigarro, vai livre como a fumaça, se desmancha ao vento. Está apenas sendo. E por pouco não segura essa leveza passageira. É demasiadamente de carne e osso, não acha posição no sofá. Quer ser cazuziana. Mas ainda não saiu do casulo, está sentada na janela, aprendendo a voar. Eu notei quando toquei seu íntimo. É de casca grossa, por ser tão delicada. Então fugiu sem olhar pra trás...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ouro de mina

Ficou revirando entre dias, ruminando na barriga, esôfago. Empurrava pela garganta, enchia os brônquios e dissipava grave. Subia e descia naquela sensação de vômito. Às vezes saia até som, contração. Mas não saia. Vazio. Oco de falta abafada, suando frio. E já se passavam dias. A coisa estava ficando insuportável. Até que veio. Toda orgulhosa, se achando obra. Daí então pensei: ‘ninguém merece ver esse troço’ - e puxei a descarga. Estava leve outra vez. O vento retomou seu velho hábito de passar jovem e fazer carinho. Mas durou pouco. Eis que a campainha toca, o coração dispara. Abro a porta, ninguém. Volto para casa, encontro a geladeira aberta e gente que se disfarça no sofá. Fico sem ter onde cair morto. Meu estômago revira, ando de um lado para o outro. Não desocupam o banheiro. Perdi minha cama. A coisa ficou aguda. Do que essa obra tanto reclama? Acho que nasci com a sina do desassossego.

“Quiçá, um dia, a fúria desse front virá lapidar o sonho até gerar o som”

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sob o signo de seu nome

Pois quando fugi
(ou quando me expeliu pra noite fria)
soube que nasci embriagado,
que estava condenado.

Por isso, os passos cruzados e o sangue de vinho,
a alma colorida e a mediocridade vomitada na mesa.
O esquecimento e a alegria. A mentira. O desejo.

Sim,
no armário de coisas antigas
os poemas que me cravastes são dados por perdidos.
Mas ressurgem, letra por letra,
quando sua figura me assombra,
até formarem estrofes, imagens, novenas.

E enquanto invento seu nome, me doem os lábios,
me sagram as coxas, me cora a face –
um fio de prazer brota de dentro dos ossos, e
espalha-se sob seu domínio.

Hipnotizado,
me reencaminho ao eterno ninho,
onde o sonho me tira o sono,
e inocentemente brinco.


Sei que você não existe.

terça-feira, 16 de junho de 2009

"Se você for
exatamente como imagino,
igualzinho aos meus sonhos,
eu vou embora.
Detesto desmancha prazeres"

Marta Medeiros

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Deveras sente

Deveriam eliminar os corações poetas. Deveriam instituir algum respeito, algum segredo, algum lugar sagrado – lembrar da calma oceânica que periga estourar os tímpanos ou dos jardins e flores que podem derreter os miolos – que se volte contra eles e os revele criminosos. Caça a esses fingidores! Deveriam usar o silêncio, esse barulho mentiroso de sentimentos.
Ensinássemos pisar sobre os corações até que eles virassem uvas, e nós nos faríamos de vinho. Sangue sussurrando verbos fermentados. Chupar a morte para depois então comê-la e ser comido. Lamber cada gota que escapar da vida, e devanear abrigos. Saber-se extremamente sozinho e escolher o lado errado. Quebrar as pernas e pedir cuidado.
Coração poeta veio ao mundo para ser violento e violentado nesse teatro do amor, seu gosto por inventar histórias e sofrer. Suas máscaras que criam raízes, seu desejo doente em seduzir, sua inocência perversa cantando ‘água de beber, camará’. Suas vítimas. Deveriam acabar esquartejados, expostos em praça pública, denunciados em horário nobre, ‘são falsos, vergonhosos; eliminem esses contraventores!’.
Eu bem sei o estrago desses monstrinhos sonhadores, são exageradamente sinceros, vivem conflitando. Adulteros, infectam nosso cortex com açucar sal e pimenta. Deveríamos prender, enjaular esses corações que batem punheta, eles e seus amadores. Todos uns loucos sado-masoquistas! Brincam com seus donos. Destruam esses tradutores! Inauguremos uma nova guerra!
Posso até imaginar, a cidade se agitando, as mocinhas se enfeitando, as mães de preto, aquele vento vazio varrendo a rua, a molecada correndo atrasada e gritando, ‘acharam mais um coração fingido’.
Então eu, todo coração, ciente do meu mau, caminharia até a praça, e de braços abertos me entregaria em versos, terminado com um ‘por favor, me livrem de tanta fantasia, sou um pobre escravo da poesia’. Porém os sensores, coerentes com meu mau risonho, mal me ouviriam. Muito menos se preocupariam com meu coração. Eu passaria despercebido. Então gritaria, e nada. Nem Pessoa nem Quintana nem nada. Minha dor não pode ser sentida. Não posso pedir socorro. Sou uma mentira.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Lembranças de Maringá

Maringá,
fica seu aspecto transitório
e eu congelado buscando sol.
Havia me esquecido do seu frio.

Não sei de mim,
nada sei de mim.

Acho que ouvi sua voz na sala escura,
pouco depois de levá-la ao terraço,
mas tive medo. Depois voltei ao corredor,
e ainda escorre o mesmo cheiro de musgo.

Há blocos de salas escuras onde eu não entro.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sobre a verdade: cercando... algum rebanho?

A verdade tem pé na fé. Um tipo de barquinho furado de difícil controle, mas necessário para permanecer sobre as águas mais profundas enquanto afundamos deliciosamente. Um equilíbrio impossível, mas ‘mais fácil que trepar em pé na rede’, como diria um antigo professor meu.

É sempre noite em alguns lugares do oceano, águas onde os olhos são postos na lua. Estrelas descem para nadar junto e ficam nos seduzindo, contando segredos que só escutam os que depositam fé. Nisso abrem novos caminhos. É como se fosse um foco da atenção. Quase inocente, indevido.

Verdade é uma palavra. Palavra é uma tentativa de representação. Representação é uma tentativa de fazer presente (e isso é sagrado). Memória permite quebrar a cabeça e juntar representações. Verdade é como um salto qualitativo na memória. É uma lembrança. Mas tem haver também com aproximação da totalidade, abstração, negativo. Se não fosse palavra, seria independente do indivíduo. Verdade não existe.

Por outro lado, verdade tem haver com dia. Então é uma areia quente e fina, de atmosfera direta de luz. Deserto bíblico de tão real, não de mar canto e sereia. Alguém prudente poderia pensar agora: ‘que viagem’, querendo desmoronar tudo. Enquanto, pelas costas, alguém com a faca: ‘que postura mais autoritária do pensamento, inventando um mundo que não existe!’, e uma mocinha de patins passaria sorrindo a morte da verdade. ‘Estamos livres!’.

Alucino o fim da verdade, a morte do tempo. Mas isso pressuporia sua realização. Ou seja, olhos fixos para reparar o monstro. E não simplesmente instituir que o monstro não existe. Ele está para todos nós, cotidianamente. Tenho medo desse deserto sem sol, seus sem números de miragens, de onde a palavra se abre.

Verdade é uma palavra-alucinação (tudo bem... toda palavra alucina). Do deserto ela brinca de teatros, simulados e gêneros. Mas simplesmente é. Por isso dizer que a verdade existe antes da palavra, diria até – e numa altura dessas vocês já não devem me levar tão a sério – antes do humano. Por isso, dentre outras coisas, ela às vezes aparece autoritária. Pede para entrar só pra fingir considerações. E quando encontra alguma voz que a anuncie, se revela dona do todo. Podem até haver outras sugestões, mas é ela quem determina.

Relativizar, fazer relações, buscar o novo, reparar o diferente – ótimo! E a gente vai construindo como se fosse um castelo de parâmetros, no mundo humano, onde o sol e a lua são postos em movimento. A verdade é, quase, de mundo parado: alucinado e sagrado. Mas será que por isso mereça ser banida do nosso linguajar cientifico? Ser caçoada em congressos?

Quase todos sabemos que verdade é uma mentira. Mas não deveríamos deixar a criança vazar com a água do banho – ainda mais se a criança ainda nem nasceu ou nasceu precoce. Carece cuidado, reflexão: se não pensamos em verdade, falamos em mentira? Espelho, sim e não, certo e errado, ... Daí talvez alguém atualizado dissesse: ‘é preciso um novo vocabulário para entender o mundo pós-moderno’, se referindo (mesmo sem saber) ironicamente ao meu barquinho furado. No que eu, humildemente, maturaria, ‘estão colocando o carro na frente dos bois’, e resmungaria ‘pós-moderno...’ em algum suspiro de quem já ta cansado.

Ato final: cena única.
Uma mulher de grande sabedoria dizendo sobre o traumático, sobre a impossibilidade de digerir, comunicar. E então vomitava e tornava a comer tudo, até que fizesse algum sentido. Frágil, de cartas e cifras. Fazia tudo isso sem tirar da cara um semblante de paz, e nos sorria.

terça-feira, 26 de maio de 2009

preserve seus amigos

Eu não quero fazer nada!
Não quero ler livros,
escutar música,
ou escrever.
Quero silêncio e paz.

Não, eu não quero sorvete de chocolate.
Não quero ser criança, beijar tua boca e amar.
Quero apenas a chance de existir e ser feliz.

Sinto não querer nem vento nem mar.
Perdem a importância
o Corinthians, o Capitalismo, Jesus Cristo.
Objetos sagrados quebram no chão,
como Chico e Tom.

E eu só quero não morrer triste doente pobre e sozinho, cheio de feridas amargas –
como às vezes pintam meus fantasminhas:

O inferno seria a vida sem amigos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dez prás três

Que dificuldade reside nesses olhos tristes?
Que acaso calou seu refrão?

Entranhas que te amarram,
quando colocardes à tona esses grilhões
dirás o que já sabes:
a luz não elimina a escuridão.

Então, braços dados,
força e coragem!

Sei que choras na chuva lamentando sua solidão.
E quando encontra alguém tranqüilo,
pronto pra te deixar calado,
dizes não.

Que recusa insistes que não podes abrir canção?

Às vezes você não passa de uma alma sebosa,
um desarranjo, um desperdício de tempo.
Sem força de vida, longe de ser um espírito-livre,
feito aqueles fortes bonitos e aventureiros que às vezes a gente vê por ai.

Numa imagem:
um quadro desprezível,
uma pintura entediante,
uma fissura que apaga.

Por acaso estás quebrado?
Vendeu-se?
Masturba-se na ferida?

Qual loucura sustenta?


Vamos,
se alegre!

A vida é imensa...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

algo sagrado

Do que escrever? De que substância? Quero algo sagrado. Se tivesse papel e lápis, faria um poema. Uma família buscando em oração o bem comum com a volta de Cristo. Terra e esgoto, pássaro e cruz. O Senhor perdoa, olhe os sinais, imagine a vingança... Humanos estão experimentando baratas como arma estratégica – dizia um amigo no bar. A guerra pelo domínio parece não haver fim na cabeça de alguns, e o futuro está feito. Fazemos, refaçamos nós direito este estado de coisas. Mas a gente é tão pouco, não é tio? E eu aqui rabiscando em paredes! Balbuciando gagamente coisas que nem tem futuro nesse mundo. Mesmo que eu falasse todas as línguas, mesmo que falasse a língua dos anjos. Não sei me comunicar, não tenho corpo - e você não pode ser dito. Tentarei dez anos de silêncio. E ele vomitou na minha cara. Filha da puta do cinema que fica chacoalhando nossa personalidade quem nem masturbação. Alma viciada, desejo débio. Só soube entupir-me com esse filtro, descendo engasgado as mesmas escadas infinitas feitas por um faraó antigo. Não passei do terceiro degrau. Ora, são infinitas dimensões, sinta as boas vibrações! E todos rimos, leves e felizes... Fiquei como se não fosse conosco, mudando o ponto de vista, pensamento positivo. Por fim, a da direita falou, há hora pra tudo e temos coisas pendentes, você precisa de um pouco mais de noção menino, me recomendando parâmetros bom senso e dança. Agradeci dizendo que estava mesmo em busca de alguma religação, querendo desenhar algum espelho, mediação. A da esquerda recomendou também silêncio. Silêncio escuta e calma para ao mesmo tempo quebrar o espelho e afundar na escuridão. E eu, que já havia sucumbido várias vezes sob esse mesmo monstro, não pude evitar um riso desse drama todo. Realmente somos uns pobres coitados, uma paródia. E é tudo tão simples, que às vezes fica sem sentido... Me dê sua mão? Acho que Deus está novamente do meu lado.

domingo, 3 de maio de 2009

olhos pequenos

ainda lembro teus doces olhos instantes antes de virardes serpente - vós, que sois muitas numa íris agora incolor, camaleoa. pois que por agora vem me clareando o modo pelo qual me deixou desumano. já posso sentir meu pescoço inflamado, saber de seus dentes: viravam-me os olhos enquanto roçavas a pele, me deixando presa. poro por poro se infiltrou feito corrente, até substituir meus nervos, entrelaçando-me. Sugara-me a substância, roubaste minha firmeza - depois, achando que não serviam os ossos, me jogastes fora por inteiro! cai pedinte, mendigando qualquer trocado do teu desejo. você sorriu, linda, me chamando de bêbado. Sarcástica, estendeu a mão para brincar um pouco mais com meu segredo. estava eu em público, depenado, em humilhação. pois que então, perseguido pelas risadas, comecei minha fuga. cambaleante, sem origem ou destino. perdi todas minhas fichas, desgracei meus melhores amigos. e eis que somes, me deixando doente arder em vício. me pergunto se já existiu no mundo pessoa tão faltando como eu, tão só, tão triste. olhos pequenos... perderia tudo outra vez por uma gota mais do teu veneno.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

tranqüilo...

faço de tijolinhos planos pr`aquela calma precisa,
das coisas verdes que conservam raízes
e confiam sua vida a um único solo
repleto de intempéries e providências.
Calma das árvores antigas.

Calma das formigas trabalhadeiras, que indubitavelmente aplicam toda sua energia a uma tarefa certa, digna, sem erros, completa de motivo. De quem encontrou sua abelha rainha...
Daquela falta de incerteza que abraça os que ainda podem crer em Deus e, nas dificuldades, vêem dos ombros dEle os passos na areia, e cantam louvores.

Da constância e verdade nas sempre únicas ondas que brindam o mar - onde todos são pequeninos e os jacarés são de se correr atrás - ondas que, esticando-se, no fim da tarde, acariciam com o fim castelos, desenhos e versos feitos justamente sob a predestinação de findar. Praia nordestina, o vento nos coqueirais e o bom proveito de suas sombras, o calor no corpo e a água evaporando, a esperança em silêncio oceânico de um dia reencontrar seu habitat.

A calma de saber o quão ínfimo somos no tempo e que a vida independe de qualquer sorte pra continuar, que não temos força para desperdiçar o caminho, e que mesmo a existência sendo desprezada teremos paz na velhice e boa aposentadoria – com casa fortificada e família amada (ah, a santa inocência burguesa...)

O encontro com a bondade do destino, das coincidências que transbordam o sentido e onde a felicidade depende de esticarmos o braço. A calma do despreocupado, do que anda de improviso, certo da ajuda dos astros. O domínio dispensado...

Do simples e profundo,
do detalhe que abre o mundo,
da metáfora mais bonita que nada vale.
Da obra concretizada, da sensação de totalidade,
do inútil, do prenhe, do bruto, do delicado.

...como um sorriso de amor.

domingo, 12 de abril de 2009

crisálida quebrada

Ah...
as borboletas e suas asas espelhadas,
quando elas desgrudam
os espelhos se abrem.

e ela sai da caixinha,
bela,
voando por ai...

vento,
luz, flores,
árvores ondulando -

a vida que trabalha livre,
ama em camas de polén,
como um beijo, fecunda.

vai de improviso,
borboleteando pra de onde nunca saiu...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Meu narcisismo secundário está inflamado!
Disco riscado: meu amor é meu
amor é meu...

e um jeito de ser me abraçou,
pesando os olhos -

mas não posso mais a cumplicidade dessa gente estúpida,
tenho comigo que de agora em diante serei sozinho.

Com sorte ainda amarei a lua,
buscarei seu silêncio na madrugada,
seu cheiro de coisa sonhada.
Ansiarei o ciclo da Terra como a vida que se despe,
tudo para chegar na tua luz e me desmanchar.

Quando então cansado de não tocá-la,
encolhendo os joelhos até o peito,
pensarei que acaricia-me um abrigo

e que todo o mundo, agora redimido,
já dormira tranqüilo, pois seu manto
nos cobriu da realização ideal.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sarau

Escrever poemas para quê? Expor alguns num blog, o que leva uma pessoa a isso? Blog, nunca achei que escreveria um! Minha priminha achou um absurdo, mas tá aí, um blog. Tudo começou com uma borboletinha me chamando, de perto vi das cores mais bonitas, fui seguindo ela e parei aqui. Depois ela foi voando, deixar o mundo mais feliz. Saudades...

Não bem poemas, talvez uma tentativa meio clichê de escrever poeticamente – patético, dito com outros ouvidos. E muitas vezes é certo, me sinto envergonhado de mim, ridículo. Quem, para dizer o que sinto? Quem, para insistir que devo dizer? Não sei, mas fiz um blog – como um dia brota uma flor ou uma ferida aberta. Cheio das boas intenções.

Agora, tem também a sensação de querer tornar útil, de existir com o olhar do outro. Não é esse um de nossos grandes motivos? Que pesadelo... É claro que todos temos nossos mundos fugidios, nossas tramas e trancas, danças e mantas. Mas, quem bisbilhoteia peças íntimas no varal vizinho? Com que força vira fofoca? Como corredor?

Podíamos fazer um Sarau! O que acham? Vamos todos ser felizes?!

segunda-feira, 30 de março de 2009

nada justifica tantas chances desperdiçadas!

Somos o show de um palhaço,
público batendo palma, bebê chorando assustado.
A mãe acolhe – ‘você já não tem idade!’.

Em tudo se vê sexo nessa roda improvisada,
e dá-lhe risada. Incesto no picadeiro,
lona armada. Foice bailando solta,
gozo com hora marcada. Tateando a carteira,
passa boi, passa boiada – e os pais rindo com a criançada.

O bom-senso, envergonhado, se fecha alma-penada. E some...

Atração.
Sua sorte eram as roupas coloridas,
o foco da luz e a pele maquiada. De fato,
pouco importavam suas cambalhotas, ou, depois,
seu texto cru dito sem metáforas.

Só quando gritou sua dor mais inflamada, o público parou,
fez silêncio. Olhou-se. Então explodiu numa gargalhada
daquelas de sustentar a própria graça. Uma piada.
O palhaço retirou-se sem ser notado.

Sozinho,
realizou-se com a cara no espelho, batendo, até vazar os olhos.
Depois passou a lamber os cacos até sua língua ficar desconfigurada.
Só parou quando o domador de leão, seu grande amigo, lhe desmaiou com pauladas.

O público, que não vê atrás dos bastidores, foi embora feliz,
satisfeito com o espetáculo.
Diria, um pouco apressado, não queriam perder o finalzinho do Fantástico.

quarta-feira, 25 de março de 2009

hoje no cinema me apaixonei.
Hiroshima, mon amour.

sexta-feira, 20 de março de 2009

digna de nota: preludiando.

Te ver se lambuzando nessa menstruação
me faz são.
A maneira como expele e sorri
prepara o berço pr`uma gozada geração.

então,
quando nos penetramos olhos nos olhos,
seu buraco faz o meu mais feliz.

domingo, 15 de março de 2009

Nulidade

O que se diz de felicidade?
e eu só posso seus olhos fechados...

Meus desejos caminham milhas e
chegam sempre em lugares afastados.
Qual bússola permitirá o encontro,
será o instante em que a loucura
à rosa dos ventos invade?

Felicidade,
essa inocência humana...

A minha condenou-se à metafísica.
Intocável, fez do antigo jardim um pântano nublado
por onde vagam sonhos deteriorados.
E mesmo quando sol do corpo dela me abraça,
a mato com minha impossibilidade.

Não é carma, nem destino.
É compromisso fincado,
espada presa entre pedras de toneladas.
E, enquanto não reconhecer-me nobre, não poderei nada.
Apenas olhá-la seduzir-me com seus rodopios de ninfa-fada.

A morte seria tocá-la.
Isso me reassumiria a honra, a vida.
Como beijo de amor salvando do ser sapo.

Teria, então, que assumir nova existência,
romper com o passado.
Destapar os ouvidos,
desatar-me do mastro.

Mas isso não posso,
seria muito arriscado.
Prefiro continuar covarde.

segunda-feira, 9 de março de 2009

na madrugada sozinha

ah vida,
por que não abre seus grandes lábios para mim?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Expectorante - ou, “a impressão (....) de haver melhor em mim do que eu”

Catarro. Ultimamente o que ando mais produzindo são catarros. Começou em algum inverno de verão passado. Era nojento, e foi pouco. Hoje, posso dizer, não viveria sem. Sei lá, me acostumei. A existência foi sendo transviada até se resumir a piscinas de catarros, e mergulhos, e buscas e escarros.
No começo foi horrível, catarros com melecas estranhas me faziam acordar engasgado, quase vomitando no meio da madrugada, passava horas cuspindo na pia ou na privada. Até que naquele meio dormindo acordado, fui perdendo o nojo. Já que o estupro era inevitável, achei melhor relaxar e gozar. O conhecia com a língua, sua textura, seu gosto. O esmagava no céu da boca, brincava entre os dentes, lábios. Explorava com a mão, espalhava como luva, conhecia e guardava. Então fabulava histórias, certamente alguns alienígenas me infectaram. Era tão estranho, tão meu, que em pouco tempo já me causava agrado. Me senti especial brincando daquele jeito com catarro. Engolia, regurgitava. Até a meleca toda se diluir feito água. E isso me pareceu dignificador.
Nesses anos de trabalho já produzi todo tipo de catarro, do feito clara de ovo aos mais densos e esverdeados. Catarros com manchas escuras e avermelhadas, catarro amarelo, com uva passa, bege, com pelos, marrom, com peles... Certa vez fiquei até preocupado com um tom acinzentado, pensei que poderia ser massa encefálica. O médico não acreditou no que ouvia quando lhe explicava o prazer que aquela brincadeira me dava. Ofendeu-me dizendo que eu tinha uma doença vadia, indecente, nefasta. Despediu-me chamando-me de verme, desonra da raça. Eu bem já sabia o nojo que meu passatempo causava. Por todo lugar encontrei represária. Entre os amigos, virei motivo de repugnância e piada. Passei então a meticulosamente esconder meu pequeno ritual, percebiam apenas um insistente pigarro. E isso gerou um outro tipo de prazer. O almoço passou a ser um dos pontos culminantes. Toda a família reunida, e eu com uma técnica incrível fazendo aquela mistura, meio sagrada, meio profana. Um gosto proibido, único, um privilégio meu.
Mas nesse jardim nem tudo são flores, já perdi vários amores por conta do catarro. É a hora do beijo, é fatal. Não sei se pelo pescoço esticado, o movimento, a excitação. Não sei, sei que sempre vem. E é péssimo. Volto eu a vagar sozinho, cuspindo pro alto e deixando cair na testa, ou correndo atrás feito bêbado equilibrista. Fico como agora, ermo e mendigo, me sentindo um poeta maldito, um romântico tuberculoso.
Então sentado na borda da grande represa, meus catarros viram ilhas condenadas, sendo engolidas pelo oceano. Desaparecem como serei, eu e todo meu mundo humano, diluído, dissipado. Mas isso pouco me importava. Eu já havia resolvido boa parte do meu motivo quando você veio com seu jeito alegre e simples e, quase sem querer, unhou, conforme as voltas que a vida dá, algum segredo do meu coração. Por esses dias, ‘Ei, de que você tanto se protege?’, disse séria e despretendida. Depois, meu silêncio seguido de um inesperado ‘não sei’ irritou alguma coisa que estava calada. Desde então, algo importante está em perigo, sinto.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

negativo

Os vizinhos gritam catarses de música sertaneja. As garotas ajudam num encontro até bonito. Se divertem todos cantando amores perdidos, dor maior. E dá-lhe risada e cerveja! E lambem sexo fácil. Como os invejo! Não sei mais essa alegria. Mesmo as noites de rock na adolescência. Alguma coisa de errado me irradia.
Acho que estou com câncer. Tenho os ossos que doem e a carne por ser descifrada. Algo voraz me devora. Os olhos ficam vazados. Projeto, e a volta me faz dissecado. Fico ao avesso, sem espaço, vago. Suicídio desencadeado. Me exorcizo escrevendo. Assim, mantenho-me enganado. Aflito, cavo meus próprios ciclos. Pobres células em metáfases. Purulam pelo meu corpo. Não podem paz. Correm cegas para o absurdo. Fico eu aqui sozinho. Implosão. Esta doença ainda me fechará em buraco negro...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

reafirmo: ridículo.
âmago humano!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

transmutação

você já não existe.
chegou de passagem,
tocou-me algum sonho e
virou miragem.

mensageira dos lugares impossíveis,
com mãos fofas e dentes afiados,
me conquista, me ameaça.


te guardo em mim,
feito pérola.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

sábado, 17 de janeiro de 2009

contemplação

_acho que não é ela,
você, praticamente não existe,
aparentemente nos conhecemos -
ou nem isso.

ainda assim, qualquer coisa
brinca com minha imaginação já de manhã cedo,
e eu sonho.

gota-gota, ridículo.
contagem de milênios.
e nossas palavras tecendo pertenças:
o ser humano.

amor enquanto prova viva de nossa condição,
este pedido pelo encontro.
há de se aprender silêncio para amar,
o amor fala por todos os poros.

e é humanidade acumulada que dá sentido,
por isso podemos falar em amor.
assim, é uma espécie de sabedoria divina no desejo,
por exemplo, tem uma músi

_cala a boca e me beija...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

ridículo, estes pedidos por carinho.
esta exposição é vergonhosa!
ridículo!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

pétalas no chão

nem borboleta, nem fada,
será mulher a minha amada.
- e já então acordado,
tirou do chão ferramentas pra caminhada.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

empouguei

e mesmo atrasado pro cinema, acabei gravando a música de onde, na verdade, tirei o nome do blog: primeira esquina (mundo desmodim). dai coloquei nesse endereço: http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=72581 ... é só procurar lá, ta no album musica e devaneio

bom, casa nova, cheia de móveis novos,
agora só falta alguem vir me visitar.


alguém vem da valor de uso pra isso!!!!!

sonho de jardineiro

com seu chapéu de palha,
em sua cadeira de balanço,
ele olha os pássaros,
sente o carinho do vento,
respira o verde das plantas.

mãos que mexem a terra,
brotam poemas de pétalas,
receios como espinhos,
arranjos para seu sonho de flor e ninho:

Seu olhar acalma o mau do mundo
(e sonha com ela...).
Seu sorriso diz sobre os mistérios mais profundos.
Seus lábios encarnam batalhas.
Suas pernas são lembranças das mãos sábias de Deus.

Tua barriga é planície das fadas.
Teu umbigo, vale de risadas.
Teus seios, montes abençoados.
Tua bunda, um templo impecável.
Teu sexo, meu recanto sagrado.

Tua sabedoria diz mesmo calada.
Teu jogo é de carta inventada.
Tua música é dançar as estrelas.
Tua força e medo é vulcão inigualável.

Quando teu desejo encontrará meus passos?
Quando meu passeio desatento trará seu afago?
Quando tua carne exorcizará esse fantasma?
Quando minha guarda será desbancada?

Quando virá você que guarda séculos em promessas,
e pra quem preparo cuidadosamente meu mais belo jardim?
Virá borboleta, virá fada?
Ou ficará rondando meus sonhos feito alma penada?

(...e acorda com a insistência de uma mosca chata!)

Barbaridade! melhor ir trabalhar
- e levanta cuspindo seu fumo de corda.

inútil paisagem

Porta trancada, três palmas e a luz se apaga.
tim-tim, comemoram a virada.
Desço ansioso pelo fundos e deixo a casa.
aqui, nenhuma voz, nenhuma risada.

Na rua, a lua e sua calma prateada.
Paisagem que já não sustenta estandarte.
Mas a brisa da magnólia que se espalha
lembra a dama que me roubara.

Murmúrios infiéis povoam de incrédulos a madrugada,
diziam-me, “louco, isto é ridículo”.
mas sei de mim,
e depois do primeiro encontro,
só sei dela.

me retiro,
fico de sentidos atentos para o proibido,
sinto as criaturas da noite e seus filhos.
E quando você surgiu de surpresa -
como já o fazia há anos seguidos -
jogando as cartas na mesa,
não tive reação. nem eu acreditaria.

Desejo de séculos cravado em mim,
e você com seu pó mágico me embriagou,
cintilante e purpurina. Pintou minhas asas,
sorriu do meu sorriso, roubou-me o abrigo.

Nos levou até o mirante mais raro,
e lá brincamos de corpos e sangue,
pactos e sonhos, plantas e montes,
gozos e rizadas.

então contou-me histórias infinitas de reinos incontáveis,
mistérios dessa vida impossível e adorável,
maravilhas para as quais os humanos estão impermeáveis.
e, nesse embalo sereno e mágico,
encaixou-se, delicada, em meu peito,
e aos poucos,
fomos os dois levados.

Ao nascer o dia,
podia ver toda a cidade,
todas as portas estavam abertas,
e, feito valsinha,
os velhos casais dançavam.

Mas você já não existia,
e todo encontro era saudade.
Foi quando brotou na alma o tom santo de Jobim,
e me revelou essa maldade:
é o preço que se paga:
o resto, agora,
é inútil paisagem...

cheio de promessas

começo de ano...
então brotou,
vê lá!

se cuida...