terça-feira, 26 de maio de 2009

preserve seus amigos

Eu não quero fazer nada!
Não quero ler livros,
escutar música,
ou escrever.
Quero silêncio e paz.

Não, eu não quero sorvete de chocolate.
Não quero ser criança, beijar tua boca e amar.
Quero apenas a chance de existir e ser feliz.

Sinto não querer nem vento nem mar.
Perdem a importância
o Corinthians, o Capitalismo, Jesus Cristo.
Objetos sagrados quebram no chão,
como Chico e Tom.

E eu só quero não morrer triste doente pobre e sozinho, cheio de feridas amargas –
como às vezes pintam meus fantasminhas:

O inferno seria a vida sem amigos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dez prás três

Que dificuldade reside nesses olhos tristes?
Que acaso calou seu refrão?

Entranhas que te amarram,
quando colocardes à tona esses grilhões
dirás o que já sabes:
a luz não elimina a escuridão.

Então, braços dados,
força e coragem!

Sei que choras na chuva lamentando sua solidão.
E quando encontra alguém tranqüilo,
pronto pra te deixar calado,
dizes não.

Que recusa insistes que não podes abrir canção?

Às vezes você não passa de uma alma sebosa,
um desarranjo, um desperdício de tempo.
Sem força de vida, longe de ser um espírito-livre,
feito aqueles fortes bonitos e aventureiros que às vezes a gente vê por ai.

Numa imagem:
um quadro desprezível,
uma pintura entediante,
uma fissura que apaga.

Por acaso estás quebrado?
Vendeu-se?
Masturba-se na ferida?

Qual loucura sustenta?


Vamos,
se alegre!

A vida é imensa...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

algo sagrado

Do que escrever? De que substância? Quero algo sagrado. Se tivesse papel e lápis, faria um poema. Uma família buscando em oração o bem comum com a volta de Cristo. Terra e esgoto, pássaro e cruz. O Senhor perdoa, olhe os sinais, imagine a vingança... Humanos estão experimentando baratas como arma estratégica – dizia um amigo no bar. A guerra pelo domínio parece não haver fim na cabeça de alguns, e o futuro está feito. Fazemos, refaçamos nós direito este estado de coisas. Mas a gente é tão pouco, não é tio? E eu aqui rabiscando em paredes! Balbuciando gagamente coisas que nem tem futuro nesse mundo. Mesmo que eu falasse todas as línguas, mesmo que falasse a língua dos anjos. Não sei me comunicar, não tenho corpo - e você não pode ser dito. Tentarei dez anos de silêncio. E ele vomitou na minha cara. Filha da puta do cinema que fica chacoalhando nossa personalidade quem nem masturbação. Alma viciada, desejo débio. Só soube entupir-me com esse filtro, descendo engasgado as mesmas escadas infinitas feitas por um faraó antigo. Não passei do terceiro degrau. Ora, são infinitas dimensões, sinta as boas vibrações! E todos rimos, leves e felizes... Fiquei como se não fosse conosco, mudando o ponto de vista, pensamento positivo. Por fim, a da direita falou, há hora pra tudo e temos coisas pendentes, você precisa de um pouco mais de noção menino, me recomendando parâmetros bom senso e dança. Agradeci dizendo que estava mesmo em busca de alguma religação, querendo desenhar algum espelho, mediação. A da esquerda recomendou também silêncio. Silêncio escuta e calma para ao mesmo tempo quebrar o espelho e afundar na escuridão. E eu, que já havia sucumbido várias vezes sob esse mesmo monstro, não pude evitar um riso desse drama todo. Realmente somos uns pobres coitados, uma paródia. E é tudo tão simples, que às vezes fica sem sentido... Me dê sua mão? Acho que Deus está novamente do meu lado.

domingo, 3 de maio de 2009

olhos pequenos

ainda lembro teus doces olhos instantes antes de virardes serpente - vós, que sois muitas numa íris agora incolor, camaleoa. pois que por agora vem me clareando o modo pelo qual me deixou desumano. já posso sentir meu pescoço inflamado, saber de seus dentes: viravam-me os olhos enquanto roçavas a pele, me deixando presa. poro por poro se infiltrou feito corrente, até substituir meus nervos, entrelaçando-me. Sugara-me a substância, roubaste minha firmeza - depois, achando que não serviam os ossos, me jogastes fora por inteiro! cai pedinte, mendigando qualquer trocado do teu desejo. você sorriu, linda, me chamando de bêbado. Sarcástica, estendeu a mão para brincar um pouco mais com meu segredo. estava eu em público, depenado, em humilhação. pois que então, perseguido pelas risadas, comecei minha fuga. cambaleante, sem origem ou destino. perdi todas minhas fichas, desgracei meus melhores amigos. e eis que somes, me deixando doente arder em vício. me pergunto se já existiu no mundo pessoa tão faltando como eu, tão só, tão triste. olhos pequenos... perderia tudo outra vez por uma gota mais do teu veneno.