segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Solidão de manhã,
poeira tomando assento,
rajada de vento,
som de assombração. Coração
sangrando toda palavra sã.

A paixão, puro afã,
místico clã de sereia,
castelo de areia,
ira de tubarão. Ilusão,
o sol brilha por si.

Açaí, guardiã.
Zum de besouro, um imã.
Branca é a tez da manhã.

(Djavan)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

véspera

Passos rápidos e familiares, passam travessas e vitrines, desejam famintos algo que escapa aos ouvidos. Passos, passos, centenas, milhares de pessoas – brasileiro deixa tudo pra ultima hora, dizem. O que procuram? Jogam espelhos nesses olhos de labirinto – e este templo fechado retira se é noite ou dia. As crianças acham que tudo é festa, as mulheres preocupam-se com a ceia, os homens com o dinheiro (e tríplice vice-versa, pois senão sou careta). Todos se confraternizam no fim de ano, espírito natalino. Agradecem a possibilidade de ascenderem ao paraíso, o ano de sacrifício, e se permitem amar assim como Jesus amou (de a César o que é de César?!) - mas amam nada. É tudo protegido por uma consistente crosta social de hipocrisia, a necessária hipocrisia cristã: solidariedade no capitalismo. Não há pobres no shopping. Há os que deixam o chão limpo, os filhos dos nem-tão-ricos livres do perigo, e os restaurantes e lojas com excelência no serviço – esses são trabalhadores. Mas não há pobres em shoppings, sério, vi na televisão. Pobres compram no calçadão, no centro do calor, suam e emitem cheiro e vocabulário engraçado. Pobre no shopping é sujeira, da qual os trabalhadores desse templo asséptico se encarregam. Assim, a criança rola branca no chão até conseguir o colo de seu pai. E é essa beleza que me impressiona, essa inocência humana, essa busca infantil. Como somos fáceis! E perdemos tanto por tão pouco... O detalhe da calça, a marca do salto, a carteira aberta emanando algum sentido fálico. E tudo parece tão natural, desde que não me lembro é assim. Tenho fotos com o Papai Noel, e meus olhos brilhavam! Hoje há, em todo shopping, ilhas de pólo norte, com atendentes gostosas e trenzinhos nas nuvens - e se pode entrar na casa do bom velhinho! Às vezes tem presépio, chocolate, Shrek com a família - tudo no mesmo barco. Que templo é esse? Nessa época de explicitações, só mesmo muito glamour e mais-repressão pra dar conta. Eu fico na praça de alimentação e penso escrever sobre pães que caem no chão, as vezes sacos inteiros, escrevo até passar a fome. As famílias passam com olhares que os filhos aprendem: enxergar apenas coisas bonitas, o lado bom. As migalhas viram pó, raspas e restos não interessam - prontamente os trabalhadores recolhem pro lixo. É que é preciso o espírito faminto, pra que a mesma alegria surja no próximo natal...

pois então...

antes me perguntei, "pra que serve um blog?" dai pensei, que visão pragmática! o que faço com isso?!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

olá!

toc toc toc
tem alguém ai?
...