domingo, 11 de outubro de 2009

para encontrar os pés na areia

sou raso - dai que vivo no fundo:
aqui não há luz - nisso, me ilustro

sozinho, como sempre só pude ser:
perdi o tempo, cresci anacrônico,
omisso, como as estrelas ao amanhecer.

abro os olhos, claro, estou vivo,
boiando em pleno oceano, ao sol do meio-dia.


nado.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Verde-mar

Há matas atlânticas antes do seu plano.
Desço ladeiras para chegar.
Caminho por areias soltas
e deito embalado no seu som a me navegar.
Estou absolutamente sozinho na praia,
sendo abraçado pelo mundo inteiro ao misturar sol e vento.

Não sei de onde vem sua cor, mas vem como canto de sereia.
Paraliso frente ao mar, qual esfinge, me chama.
As nuvens desenham sombras nas tuas ondas, o desejo dança.
Sou olhos estabelecidos, vazados por alguém que novamente ama.

Aprendo ver o silêncio.
Com o imenso buraco que em mim fecunda,
hieroglifo a lembrança das estrelas.
Bebo duma sabedoria perdida.
Talvez por isso, afunde no oceano.

Aflito ao não encontrar chão, algo pré-história me origina.
Hoje há um grande monstro em todo coração humano,
e eu continuo com meu sonho de menino.

Com o passar do tempo vou ganhando verde,
necrosando em alto mar.
Alimento pássaros e peixes,
vermes crescem vida em mim -
agradeço.

Aos poucos some meu corpo inchado,
até simplesmente ser esquecido.
Agora sim, em plenitude, diluído.

Já não tenso.

domingo, 2 de agosto de 2009

meu narcisismo é meu prelúdio de dor...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

expectativa...

Aprender essa calma... guardar o mundo que cresce no peito e quer transbordar. Pode parecer estranho, mas agora sei que devo cruzar os braços e fazer desse rio um oceano. Então, em um lugar em que ainda não existo, desabrocham cores e formas cada vez mais belas. Eis que é preciso guardá-las pelo maior número de séculos, deixá-las escondidas no porão onde foi esquecido o tempo. Novamente temo o silêncio e a morte, mesmo assim, devo calar. A vida há de ser justa, não deixarei tanta coisa por ser feita. E quando eu, finalmente, me for, já terei deixado minha obra nesse chão. E do pó que sou, ficará o barro mais nobre e humano.

Desenhos em nuvens

Diferente das palavras,
as nuvens se arranjam sem pensamentos.

Havia me afastado delas e de seus desenhos,
mas já posso estar mais tranqüilo,
transbordando, as compreendo:
são meus, seus segredos.

Porque brinco com as memórias
como se concretamente fossem nuvens,
sempre se movendo
passando e ganhando forma.

Não me entenda errado, só sei de mim.
Falo com os arranjos que desejo,
que me levam, que me deixam.

Um mundo encantado sobre o concreto,
e brinco em sol com fogo brasa e fumaça,
fabricando o canto que você inventou pra mim.

A consistência me leva ao ar parado,
logo me vem a janela.
Agora,
o vento.
A vida,
incrivelmente bela.
O fim.

Melhor mesmo é calar
(há tantos poemas...),
cegaríamos nesses olhos azuis -
aprendêssemos escutar, talvez.


Céus,
um cordeirinho nos trazendo a salvação!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dialética

Engraçado o quanto é essencialmente desprovida de sentido primeiro a existência humana – e ela é toda sentido se movendo, precipitando, crescendo. Mas um buraco cobre o outro enquanto não se percebe o jogo de espelhos. Então reificamos, mediação alienada, e mesmo dando cabeçadas na parede, não reparamos a anterioridade material das coisas. Nossa epopéia de gigante, o sentido está hipotecado nessa tragicomédia que herdamos. Como resolveremos a contradição que socialmente se manifesta? Quando saldaremos a dívida para, enfim, terminar com essa história imbecil?

Heart - em defesa das ridículas cartas de amor.

Novas línguas, novos seios? Sim... a vida é cheia de novos aconchegos. Mas gostei de sua medida. E sinto-me ainda sob seu lixo, escutando seu ventre. Já fuxiquei diversos amores, sei dizer o quanto são falsos e sustentados por um medo brusco. Amor, sentimento puro? Há os que sustentam a pureza da paixão. Fracos. Amores fracos como o seu perdem a liga numa atmosfera de angústia, não sustentam a própria busca, patinam sobre si mesmos. É ainda mais propício dizer que não buscam, seguem o fluxo. Então é preciso brincar de estar sozinha como estando cheia de si e de amigas – ‘apenas sei que não te quero’, dizia enquanto me lambia. E é fácil que ela não sabia, mas insistiu até que fosse. E depois não teve mais espaço ou tempo ou vontade. As coisas batem do avesso de tão simples, reflexo na janela: portas fechadas, ruas abertas. Claro que não há dúvidas, não há dívidas, não há expectativas. Tudo morno, em banho-maria, como um deus sem ódio, como as novelas de família, como adormecer no sofá. Mas você ficou fria até que pudesse cortar, encostar trincar e fazer pó. Constrangedor.

Meu coração é minha casa, e sei que esse meu tema é digno de escárnio. Onde já se viu, em pleno século XXI acomodar-se nessa linguagem? É que tedia ser seco... Talvez devesse bater mais áspero e guardar o sentimento? Já me ensinaram: nessa selva de prazer, não diga nada, desfrute, aproveite, age naturalmente. Pele e corpo se entregam por inteiro. E se um dia aparecer uma mocinha muito quente querendo te aproveitar, aproveite – não importa quem seja. Mas eu não sou desse lugar, mesmo que quisesse. Sendo um exagero dramático, devo mais é ser sozinho. Por isso deveria aprender ser calado, sem mensagens, sem cartas, sem escritos. Vazio até de mim. Sou fraco, medíocre, uma idealização frustrada. Não consigo com esse glamour, com esses gliters, com essa alegria. Lembro daquelas propagandas que mexem com nossos sonhos, sou a mentira delas explicitada lembrando do seu vulto. Mas isso não me faz menos, apenas me mostra a hora errada, e pede calma. Perco o sono, sou uma piada. Meu coração guardou seu cheiro, ficou encantado. É um inocente. Não serve pra nada. Vive quebrado.